Arquivo de Abril, 2010

(re)começo / continuação

[xk

Há dias …

Há dias que nascem de costas, assombros que gritam de frente, passagens breves que lembram amanhãs …

Eugéne Atget, Villejuif, ancient chateau du Comte St. Roman (la ferme), 1901

Eugéne Atget, Villejuif, ancient chateau du Comte St. Roman (la ferme), 1901

… e, depois, futuros que já são …

[dc numa revisitação da sua sala de estar

sobre o documentário “Ruínas”, de Manuel Mozos

Primeiro, a explicação. As linhas que se seguem não pretendem ser uma crítica ao documentário “Ruínas” de Manuel Mozos (LISBOA, Medeia King, Sala 3 – 14h, 16h30). De cinema percebo pouco, de documentários menos ainda. Perceber-se-á não ser uma crítica, espero, até porque sobre a narração de textos que acompanha as imagens, parte integrante da obra, nada (ou quase) direi aqui. Incluem “A Mão no Arado”, de Ruy Belo, não lhe sou imune, mas deixo por ora essas palavras.

Cova do Vapor, Trafaria, de "Ruínas"

Para “Ruínas”, Mozos filmou espaços abandonados, ou de quase abandono, de norte a sul de Portugal. O que vemos é a sua selecção de um conjunto de lugares por si referenciados ( ultrapassavam as duas centenas e meia, o que  tornou impossível filma-los na totalidade).

O documentário de Mozos, no modo como capta e nos apresenta as imagens, estabelece uma proximidade com a Fotografia, que acontece na exploração temática, estética e narrativa. Mas o que mais me interessa é a escolha de Mozos na abordagem visual. Não nos explica os lugares da forma mais habitual nos nossos dias. Ou seja, não nos conta a história desses espaços, não estabelece pontes, não refere registos contemporâneos ou passados, não é um trabalho jornalístico e não é também uma catalogação arquitectónica. Não entrevista pessoas, não se põe a deambular pela saudade. No entanto, com o auxílio do que ouvimos, jeito de enviesadas legendas às imagens, os lugares vão-se sucedendo e explicando-se a si próprios e uns aos outros. Espaços habitados pelo que foram e agora são, por quem os fotografa, e por quem os vê.

Neste encontro, Mozos cria uma narrativa onde concorrem espaços, pessoas, autor, espectador e, talvez o mais importante, o tempo. Passado, presente e futuro, no seu efeito sobre diversos lugares (sejam empreendimentos turísticos, reformatórios, casas-museu, explorações mineiras abandonadas, unidades de saúde). Surgem-nos em séries de imagens, sobre cada espaço, num ordenamento visual (isto é, não seguem uma linha geográfica, temática, cronológica ou hierárquica), testemunhando-se a si próprios, às suas vivências e ausências, e paralelamente testemunhando a desertificação do nosso país e uma parte da história que hoje somos. Não é uma linguagem como a da obra de Gabriele Basilico, menos ainda como a de McCullin, em Perspectives, por exemplo. Não se trata de Fotografia mas também é Fotografia.

São muitas imagens, maioritariamente numa linha coerente, quer nas séries quer nestas entre si. O mérito de Mozos está em conseguir dar-nos, com simplicidade, o espaço necessário para percebermos o seu discurso visual sem termos de aproximar-nos da linha estabelecida por Marc Augè, os “não-lugares”, ou de outros conceitos e elaborações contemporâneos aparentados, que são para a Fotografia, na esmagadora maioria das vezes, mais pretensiosos e complicativos do que úteis.

Se pelo conhecimento que tenho do país e pelo meu percurso como fotógrafo identifiquei e relacionei facilmente a maioria dos lugares, considero algumas das séries excessivas, no sentido de redundância, o que contribuiu para uma sensação final menos preenchida. Contudo, num tempo em que a fotografia percorre frequentemente os trilhos dos slideshows e de outros suportes multi-média, pelo que dali podemos pensar, é interessante ver um exercício de imagens assim. Abre-se a várias linhas de reflexão, para alguém visitar.

É uma pena que o cinema Medeia King não tenha uma projecção capaz para este documentário. Também por isso não falo das distorções demasiado presentes em algumas tomadas de vistas. Às vezes é difícil perceber onde foi que correu menos bem.

[ms

a propósito…

A propósito de uma espreitadela pelo Facebook e do encontro com o fotógrafo Jean-Pierre Attal e com as suas séries Alvéoles vol. 1 e 2, uma outra fotografia a lembrar-me que houve outros dias no meu escritório…

Walker Evans / Penny Picture Display, Savannah, Georgia, 1936

Dos pressupostos errados sobre a representação da democracia e sobre uma falsa condenação do conformismo sobra a múltipla questão: afinal quantas são, afinal quantos somos, afinal quantos foram?…

[dc numa revisitação de MoMA Highlights, The Musem of Modern Art, New York, 1999

Rimbaud em Aden ou la photo retrouvée

© ADOC / Chez les libraires associés

um dos poderes do objecto fotográfico: o regresso.

ff

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…while working

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